Perdi os sonhos?

Sabia o poder dos sonhos, sabia que sonhar me acendia os propulsores do que sou, me levava além do que tinha. E então sonhei.
Escrevi muito, passei para o papel todos os sonhos, os planos, o que queria fazer com toda a energia que tinha ao acordar.
Apressei-me a fazer todos, uns depois de outros, muitos em simultâneo. E a vida era tão bela... Ah, se era!

Corria para todo o lado, não parei um segundo sem que a lista estivesse completa. De tanto correr, as pedras dos caminhos atraiçoaram-me, e caí. Uma queda feia, no fundo igual a tantas outras, onde perdi a lista de sonhos para finalizar que trazia no bolso direito daquele casaco preto que mais usava, aquele com fecho dourado.
Chorei nesse caminho com a dor de ter caído, e desesperei em busca do meu papel pequenino, cheio de sonhos.
Sentei-me agora à mesa na sala, com uma alma quase tão negra como este tampo de madeira. Sobrou-me vida depois de todos os sonhos, e um papel em branco onde não sei o que escrever.
Tinha já o caminho todo traçado, porque raio tive que tropeçar ali e perder o meu mapa?
É difícil recomeçar, a energia não é a mesma. Concentra-te. Pensa em qualquer coisa, no que queres. Costumavas querer tanto...
Q... u... e... r... Oh, a caneta deixou de escrever... Deve ter-se estragado quando caí.
Há pessoas que caem e se levantam muito depressa, olham logo para o lado para perceber se alguém as viu escorregar. Outras, apoiam logo a mão no chão, e erguem-se antes mesmo de cair por completo.
Temos sempre marcas nas escorregadelas que os dias nos dão. E a verdade é que eu nunca aprendi a cair.